Vacas de leite podem morrer de frio no Brasil?

Muito se fala de estresse térmico em vacas leiteiras, mas e durante o inverno? É preciso mudar o manejo das vacas? Entenda!

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Muito se fala de estresse térmico em vacas leiteiras e prejuízos com reprodução, saúde e produção. Nos últimos dias surgiram notícias de animais morrendo de frio e isso preocupa produtores pois em geral é a melhor época do ano para produzir leite pensando em conforto e saúde. As mortes no Mato Grosso do Sul já am de 1500 e como o clima está mais instável ultimamente isso preocupa produtores de leite.

Segundo a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro), o frio dos últimos dias causou mais de 1000 mortes entre bois, vacas e bezerros. Daniel Ingold, diretor-presidente da Iagro explicou que “essa mortalidade de bovinos é originada pela inversão térmica, em que animais com o corpo quente foram expostos a temperaturas mínimas muito baixas durante o dia, acompanhados também de chuva, garoa e ventos”.

Além da queda nas temperaturas e a alta umidade, a falta de abrigo pode ter contribuído para as mortes. Isso destaca a importância de um correto manejo e instalações para os animais. 

É importante ressaltar, que os animais que morreram de hipotermia eram para a produção de carne, oriundo de raças como a Nelore, que é bem adaptada às condições climáticas do Brasil, principalmente em locais mais quentes. Sua faixa de temperatura de conforto é cerca de 18 a 26°C e isso dificulta a regulação da temperatura corporal em temperaturas abaixo da sua mínima.

Na produção de leite, são utilizadas principalmente raças originárias da Europa, como Holandês e Jersey, onde os animais são adaptados a um clima mais ameno. Isso resulta numa faixa de temperatura de conforto térmico entre 5 e 18 °C (dependendo da linhagem e adaptação dos animais). 

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Durante o inverno, especialmente no Sul e Sudeste do Brasil, as vacas estão mais próximas da faixa de conforto térmico, melhorando o bem-estar, produtividade, índices reprodutivos e eficiência alimentar. Em geral são os melhores meses do ano em saúde e produção. 

É preciso mudar o manejo das vacas?

Deve-se considerar que vários produtores já utilizam Compost Barns e Free Stalls, onde as vacas estarão mais protegidas do frio e do calor. Atualmente quase 50% da captação é oriunda de sistemas confinados. A preocupação será apenas na regulagem de ventiladores e aspersores já que abaixo de 5°C já não são necessários mais banhos de resfriamento na sala de espera ou na linha de cocho, a não ser que ao longo do dia a temperatura e disso.

A dica portanto é que se simplifique o manejo optando por ou ficar sem banho ou por exemplo instituir um banho no meio do dia (isso depende da dinâmica de variação de temperatura e umidade está acontecendo). Em relação aos ventiladores, o ideal (no frio e calor) é que se tenha regulagem da força (a instalação de inversores possibilita isso) e assim seja possível ligá-los apenas para manter o ar circulando e evitar o acúmulo de amônia no ar. Isto também permite uma economia razoável de energia.

A partir de -5° já existe estresse térmico pelo frio e então toda proteção para os animais é bem vinda, porém é raro que no Brasil haja um dia com temperaturas negativas por muitas horas. Em geral essas temperaturas são atingidas por apenas 1 ou 2 horas durante a madrugada, portanto esse não é um ponto a se preocupar nesse momento.

Obviamente, se a fazenda conta com um rebanho mais cruzado ou vacas de genética mais tropical esse limiar não é tão baixo e é possível que os animais diminuam consumo, se agrupem mais, e consequentemente caiam em produção e até saúde.

Bezerras são mais sensíveis?

No caso das bezerras, principalmente recém-nascidas, a atenção deve ser redobrada. No início da vida, são incapazes de regular a temperatura corporal, e no inverno pode ser necessário um manejo diferente para ajudá-las a se aquecerem.  Hoje já existem modelos de bezerreiro que as protege do frio e calor, além de roupinhas que podem ajudar bastante, especialmente as menores. A faixa de temperatura ideal varia de acordo com a idade, peso e outros fatores, mas geralmente está entre 15 e 25 °C.

No Brasil, em várias regiões, os termômetros registram temperaturas inferiores à mínima ideal para bezerras, principalmente na parte da manhã e à noite. Nesses períodos, é importante fornecer abrigo seco que contenha proteção contra o vento e a umidade. Pode-se manter pelo menos as bezerras com até 30 dias em um lugar fechado, nem que seja a noite. Muita atenção à limpeza desse local e ao surgimento de doenças oportunistas como pneumonia. Hoje é possível fazer protocolos profiláticos para pneumonia apenas nesses momentos de maior vulnerabilidade.

No frio a pastagem pode estar comprometida

Além da atenção direta com os animais, as baixas temperaturas preocupam também a alimentação. Podem ocorrer geadas na pastagem e é necessário um planejamento prévio do fornecimento de alimentos, como a silagem, para que não falte comida para o rebanho.

 

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Material escrito por:

Hayla Fernandes

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Médica veterinária pela UFG, mestre em sustentabilidade e pecuária e consultora técnica. Proprietária do perfil @vaca_feliz_oficial no Instagram.

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Maria Luíza Terra

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Segundo a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro), o frio dos últimos dias causou mais de 1000 mortes entre bois, vacas e bezerros. Daniel Ingold, diretor-presidente da Iagro explicou que “essa mortalidade de bovinos é originada pela inversão térmica, em que animais com o corpo quente foram expostos a temperaturas mínimas muito baixas durante o dia, acompanhados também de chuva, garoa e ventos”.

Além da queda nas temperaturas e a alta umidade, a falta de abrigo pode ter contribuído para as mortes. Isso destaca a importância de um correto manejo e instalações para os animais. 

É importante ressaltar, que os animais que morreram de hipotermia eram para a produção de carne, oriundo de raças como a Nelore, que é bem adaptada às condições climáticas do Brasil, principalmente em locais mais quentes. Sua faixa de temperatura de conforto é cerca de 18 a 26°C e isso dificulta a regulação da temperatura corporal em temperaturas abaixo da sua mínima.

Na produção de leite, são utilizadas principalmente raças originárias da Europa, como Holandês e Jersey, onde os animais são adaptados a um clima mais ameno. Isso resulta numa faixa de temperatura de conforto térmico entre 5 e 18 °C (dependendo da linhagem e adaptação dos animais). 

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Deve-se considerar que vários produtores já utilizam Compost Barns e Free Stalls, onde as vacas estarão mais protegidas do frio e do calor. Atualmente quase 50% da captação é oriunda de sistemas confinados. A preocupação será apenas na regulagem de ventiladores e aspersores já que abaixo de 5°C já não são necessários mais banhos de resfriamento na sala de espera ou na linha de cocho, a não ser que ao longo do dia a temperatura e disso.

A dica portanto é que se simplifique o manejo optando por ou ficar sem banho ou por exemplo instituir um banho no meio do dia (isso depende da dinâmica de variação de temperatura e umidade está acontecendo). Em relação aos ventiladores, o ideal (no frio e calor) é que se tenha regulagem da força (a instalação de inversores possibilita isso) e assim seja possível ligá-los apenas para manter o ar circulando e evitar o acúmulo de amônia no ar. Isto também permite uma economia razoável de energia.

A partir de -5° já existe estresse térmico pelo frio e então toda proteção para os animais é bem vinda, porém é raro que no Brasil haja um dia com temperaturas negativas por muitas horas. Em geral essas temperaturas são atingidas por apenas 1 ou 2 horas durante a madrugada, portanto esse não é um ponto a se preocupar nesse momento.

Obviamente, se a fazenda conta com um rebanho mais cruzado ou vacas de genética mais tropical esse limiar não é tão baixo e é possível que os animais diminuam consumo, se agrupem mais, e consequentemente caiam em produção e até saúde.

Bezerras são mais sensíveis?

No caso das bezerras, principalmente recém-nascidas, a atenção deve ser redobrada. No início da vida, são incapazes de regular a temperatura corporal, e no inverno pode ser necessário um manejo diferente para ajudá-las a se aquecerem.  Hoje já existem modelos de bezerreiro que as protege do frio e calor, além de roupinhas que podem ajudar bastante, especialmente as menores. A faixa de temperatura ideal varia de acordo com a idade, peso e outros fatores, mas geralmente está entre 15 e 25 °C.

No Brasil, em várias regiões, os termômetros registram temperaturas inferiores à mínima ideal para bezerras, principalmente na parte da manhã e à noite. Nesses períodos, é importante fornecer abrigo seco que contenha proteção contra o vento e a umidade. Pode-se manter pelo menos as bezerras com até 30 dias em um lugar fechado, nem que seja a noite. Muita atenção à limpeza desse local e ao surgimento de doenças oportunistas como pneumonia. Hoje é possível fazer protocolos profiláticos para pneumonia apenas nesses momentos de maior vulnerabilidade.

No frio a pastagem pode estar comprometida

Além da atenção direta com os animais, as baixas temperaturas preocupam também a alimentação. Podem ocorrer geadas na pastagem e é necessário um planejamento prévio do fornecimento de alimentos, como a silagem, para que não falte comida para o rebanho.

 

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