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Farelo de Amendoim: qual a qualidade nutricional do coproduto que utilizo em minha propriedade?

O farelo de amendoim como fonte de proteína apresenta-se como uma opção estratégica na formulação de dietas de vacas leiteiras. Qual sua qualidade nutricional?

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A inclusão de coprodutos na dieta de bovinos leiteiros é crucial para otimizar a eficiência produtiva e a rentabilidade das fazendas. Esses alimentos são provenientes de processos industriais e agrícolas, sendo uma fonte valiosa de nutrientes.

O farelo de amendoim (Figura 1) por sua vez surge no catálogo como uma fonte altamente relevante de proteína para bovinos. Este coproduto tem valor médio de proteína bruta (PB) de 48%, representando uma opção valiosa na substituição de fontes tradicionais de proteína. A PB do farelo de amendoim é composta principalmente por proteína degradada no rúmen (PDR), uma fração da proteína que é disponibilizada para uso das bactérias ruminais contribuindo com a produção de proteína microbiana e quando associado a uma fonte de carboidratos compatível otimiza a eficiência nutricional da dieta, proporcionando bons resultados produtivos.

Figura 1. Amostra ESALQLAB de farelo de amendoim.

Amostra ESALQLAB de farelo de amendoim.

Por ser um coproduto, a composição nutricional do farelo de amendoim está sujeita a diversas influências e, portanto, despadronização nutricional. Fatores como a armazenagem, colheita, umidade e processamentos industriais podem causar variações significativas nos teores de gordura, proteína e fibra deste alimento, tornando crucial o monitoramento desses aspectos para aprimorar o desenvolvimento da formulação de dietas dos animais.

Buscando informar e ampliar a base de conhecimento sobre a composição do farelo de amendoim, a equipe ESALQLAB conduziu um estudo retrospectivo em seu banco de dados (Tabela 1) com a composição nutricional média do farelo de amendoim dos últimos anos.

Os valores médios de matéria seca na tabela 1 apresentam conformidade esperada de um farelo. Entretanto, é crucial observar que os valores mínimos são preocupantes, uma vez que matéria seca abaixo de 90% pode aumentar a susceptibilidade do coproduto à contaminação por micotoxinas.

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A média (47,28%) de PB, aproxima-se do esperado para esse produto (BATAL et al., 2005). Todavia, é importante observar que a amplitude de valores para essa variável foi de 12,5 pontos percentuais, mostrando que esse produto apresenta muitas variações.

Já o teor de gordura (avaliado como extrato etéreo na Tabela 1) apresenta média (5,81%) mais altas do que a literatura, com valores de amplitude (12,27%) e coeficiente de variação (63,95%) bastante elevados reforçando a variação nutricional desse produto. Estas diferenças nutricionais podem ser relativas à região de origem, fornecedor, lote, processamentos e etc. Tais discrepância enfatizam a necessidade da realização de análises bromatológicas do farelo de amendoim.

Somente com essas análises haverá certeza da qualidade do produto em sua fazenda e por meio dessa investigação detalhada é possível realizar ajustes adequados para atender às exigências específicas do rebanho e melhor proveito do alimento fornecido.

Tabela 1. Valores médios, máximos e mínimos observados para a composição bromatológica do farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.

Valores médios, máximos e mínimos observados para a composição bromatológica do farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.Fonte: ESALQLAB

Vale salientar também a possível contaminação do amendoim por micotoxinas, especialmente as aflatoxinas. A aflatoxina presente no amendoim é produzida pelo fungo do gênero Aspergillus, sendo esse fenômeno também observado em outros alimentos, como o milho.

Tabela 2. Valores médios, máximos e mínimos de aflatoxinas presentes no farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.

Valores médios, máximos e mínimos de aflatoxinas presentes no farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.
*Amostras já recebidas com suspeita de contaminação, não representam uma média dos farelos de amendoim como um todo. Fonte: ESALQLAB.

A formação dessa toxina ocorre principalmente em alimentos mofados e inadequadamente armazenados com condições inapropriadas de umidade. O desenvolvimento do fungo no amendoim ocorre durante a colheita devido à umidade presente no campo. As condições que favorecem esse desenvolvimento incluem temperaturas elevadas (30 a 35°C), alta umidade do ar (próximo a 74%), e a umidade do amendoim após a colheita (9 a 10%).

 A ingestão dessas aflatoxinas pode levar à redução no consumo e no desempenho animal. Além do baixo índice produtivo, a ingestão de aflatoxinas pode causar consequências graves, incluindo risco de morte dependendo da dose, frequência de ingestão, idade, peso, sexo e estado nutricional do animal.

De acordo com as regulamentações do Ministério da Agricultura, é estabelecido que o limite máximo permitido de aflatoxinas totais em matérias-primas destinadas à produção de rações animais é de 50 μg/kg (MAPA, 1988). No entanto, os dados obtidos pelo laboratório (Tabela 2) revelam que os níveis de aflatoxina B1 já excedem esse limite. É importante ressaltar que os dados apresentados na tabela 2 é resultante de análises comerciais onde os clientes possuíam suspeita da contaminação dos alimentos, Não representando uma média dos farelos de amendoim como um todo.

Em suma, a utilização do farelo de amendoim como fonte de proteína para bovinos leiteiros apresenta-se como uma opção estratégica na formulação de dietas, contribuindo para a eficiência produtiva. No entanto, os resultados do estudo retrospectivo realizado pelo ESALQLAB evidenciam a considerável variabilidade na composição nutricional desse coproduto, ressaltando a importância de análises bromatológicas constantes.

 

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Referências

BATAL, A.; DALE, N.; CAFÉ, M. Nutrient composition of peanut meal. Journal of applied poultry research, v. 14, n. 2, p. 254-257, 2005.

MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria MA/SNAD/SFA nº 07, de 09 de novembro de 1988. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 de nov. 1988. Seção 1, p. 21.968.

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Letícia Carolina Bortolanza Soares

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Alexandre M Pedroso
ALEXANDRE M PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/03/2024

Importante reforçar dois pontos, o risco da ocorrência de micotoxinas, que no Farelo de Amendoim é significativo e da composição da fração protéica desse farelo, com grande proporção de proteína degradável no rúmen (PDR). É fundamental que os nutricionistas levem isso em consideração, além do benefício:custo do produto.
Thamarys Reis
THAMARYS REIS

PIRACICABA - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 15/03/2024

Agradecemos pelo seu comentário sobre o nosso artigo. Os pontos que você mencionou são realmente são os mais relevantes para esse coproduto. Muitas vezes, os produtores se deparam com situações em que o preço de certos alimentos está atrativo, mas, por falta de conhecimento específico, acabam não aproveitando a oportunidade ou comprando “gato por lebre”. Aprofundar o conhecimento sobre esse tema ajudará na tomada de boas decisões na fazenda.
Qual a sua dúvida hoje?

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O farelo de amendoim (Figura 1) por sua vez surge no catálogo como uma fonte altamente relevante de proteína para bovinos. Este coproduto tem valor médio de proteína bruta (PB) de 48%, representando uma opção valiosa na substituição de fontes tradicionais de proteína. A PB do farelo de amendoim é composta principalmente por proteína degradada no rúmen (PDR), uma fração da proteína que é disponibilizada para uso das bactérias ruminais contribuindo com a produção de proteína microbiana e quando associado a uma fonte de carboidratos compatível otimiza a eficiência nutricional da dieta, proporcionando bons resultados produtivos.

Figura 1. Amostra ESALQLAB de farelo de amendoim.

Amostra ESALQLAB de farelo de amendoim.

Por ser um coproduto, a composição nutricional do farelo de amendoim está sujeita a diversas influências e, portanto, despadronização nutricional. Fatores como a armazenagem, colheita, umidade e processamentos industriais podem causar variações significativas nos teores de gordura, proteína e fibra deste alimento, tornando crucial o monitoramento desses aspectos para aprimorar o desenvolvimento da formulação de dietas dos animais.

Buscando informar e ampliar a base de conhecimento sobre a composição do farelo de amendoim, a equipe ESALQLAB conduziu um estudo retrospectivo em seu banco de dados (Tabela 1) com a composição nutricional média do farelo de amendoim dos últimos anos.

Os valores médios de matéria seca na tabela 1 apresentam conformidade esperada de um farelo. Entretanto, é crucial observar que os valores mínimos são preocupantes, uma vez que matéria seca abaixo de 90% pode aumentar a susceptibilidade do coproduto à contaminação por micotoxinas.

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A média (47,28%) de PB, aproxima-se do esperado para esse produto (BATAL et al., 2005). Todavia, é importante observar que a amplitude de valores para essa variável foi de 12,5 pontos percentuais, mostrando que esse produto apresenta muitas variações.

Já o teor de gordura (avaliado como extrato etéreo na Tabela 1) apresenta média (5,81%) mais altas do que a literatura, com valores de amplitude (12,27%) e coeficiente de variação (63,95%) bastante elevados reforçando a variação nutricional desse produto. Estas diferenças nutricionais podem ser relativas à região de origem, fornecedor, lote, processamentos e etc. Tais discrepância enfatizam a necessidade da realização de análises bromatológicas do farelo de amendoim.

Somente com essas análises haverá certeza da qualidade do produto em sua fazenda e por meio dessa investigação detalhada é possível realizar ajustes adequados para atender às exigências específicas do rebanho e melhor proveito do alimento fornecido.

Tabela 1. Valores médios, máximos e mínimos observados para a composição bromatológica do farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.

Valores médios, máximos e mínimos observados para a composição bromatológica do farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.Fonte: ESALQLAB

Vale salientar também a possível contaminação do amendoim por micotoxinas, especialmente as aflatoxinas. A aflatoxina presente no amendoim é produzida pelo fungo do gênero Aspergillus, sendo esse fenômeno também observado em outros alimentos, como o milho.

Tabela 2. Valores médios, máximos e mínimos de aflatoxinas presentes no farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.

Valores médios, máximos e mínimos de aflatoxinas presentes no farelo de amendoim de amostras recebidas pelo ESALQLAB.
*Amostras já recebidas com suspeita de contaminação, não representam uma média dos farelos de amendoim como um todo. Fonte: ESALQLAB.

A formação dessa toxina ocorre principalmente em alimentos mofados e inadequadamente armazenados com condições inapropriadas de umidade. O desenvolvimento do fungo no amendoim ocorre durante a colheita devido à umidade presente no campo. As condições que favorecem esse desenvolvimento incluem temperaturas elevadas (30 a 35°C), alta umidade do ar (próximo a 74%), e a umidade do amendoim após a colheita (9 a 10%).

 A ingestão dessas aflatoxinas pode levar à redução no consumo e no desempenho animal. Além do baixo índice produtivo, a ingestão de aflatoxinas pode causar consequências graves, incluindo risco de morte dependendo da dose, frequência de ingestão, idade, peso, sexo e estado nutricional do animal.

De acordo com as regulamentações do Ministério da Agricultura, é estabelecido que o limite máximo permitido de aflatoxinas totais em matérias-primas destinadas à produção de rações animais é de 50 μg/kg (MAPA, 1988). No entanto, os dados obtidos pelo laboratório (Tabela 2) revelam que os níveis de aflatoxina B1 já excedem esse limite. É importante ressaltar que os dados apresentados na tabela 2 é resultante de análises comerciais onde os clientes possuíam suspeita da contaminação dos alimentos, Não representando uma média dos farelos de amendoim como um todo.

Em suma, a utilização do farelo de amendoim como fonte de proteína para bovinos leiteiros apresenta-se como uma opção estratégica na formulação de dietas, contribuindo para a eficiência produtiva. No entanto, os resultados do estudo retrospectivo realizado pelo ESALQLAB evidenciam a considerável variabilidade na composição nutricional desse coproduto, ressaltando a importância de análises bromatológicas constantes.

 

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Referências

BATAL, A.; DALE, N.; CAFÉ, M. Nutrient composition of peanut meal. Journal of applied poultry research, v. 14, n. 2, p. 254-257, 2005.

MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria MA/SNAD/SFA nº 07, de 09 de novembro de 1988. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 de nov. 1988. Seção 1, p. 21.968.

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EM 14/03/2024

Importante reforçar dois pontos, o risco da ocorrência de micotoxinas, que no Farelo de Amendoim é significativo e da composição da fração protéica desse farelo, com grande proporção de proteína degradável no rúmen (PDR). É fundamental que os nutricionistas levem isso em consideração, além do benefício:custo do produto.
Thamarys Reis
THAMARYS REIS

PIRACICABA - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 15/03/2024

Agradecemos pelo seu comentário sobre o nosso artigo. Os pontos que você mencionou são realmente são os mais relevantes para esse coproduto. Muitas vezes, os produtores se deparam com situações em que o preço de certos alimentos está atrativo, mas, por falta de conhecimento específico, acabam não aproveitando a oportunidade ou comprando “gato por lebre”. Aprofundar o conhecimento sobre esse tema ajudará na tomada de boas decisões na fazenda.
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