A China é um dos maiores produtores de leite do mundo, mas, mesmo com todo volume produzido, não é possível suprir a demanda por lácteos do país. Essa situação foi ainda mais acentuada após a pandemia de Covid-19, que evidenciou os benefícios dos lácteos para a saúde imunológica, fazendo com que os produtos caíssem no gosto dos chineses.
Além disso, segundo informações do Food Navigator, o governo chinês promove ativamente o consumo de laticínios e aconselha a população aumentar a ingestão diária de lácteos. As diretrizes oficiais de consumo, publicadas pelas principais associações locais recomendam uma ingestão diária de 300g em diferentes formatos.
De acordo com informações do Edairy News, em 2020, a China produziu 34 milhões de toneladas de leite que supriram apenas 70% da demanda doméstica. Contudo, vale destacar que essa não é uma situação pontual, e sim o grande desafio do setor lácteo chinês atualmente e para o futuro.
Deste modo, o país tem buscado soluções internas e externas para contornar — ou ao menos reduzir — a defasagem da produção de leite versus demanda.
Soluções internas: pecuária intensiva e aumento da produção de leite
A produção de leite em larga escala, muitas vezes em mega fazendas, é a aposta dos chineses para resolver o problema da “falta de leite”. A pecuária leiteira e a agricultura intensivas especializam cada vez mais as atividades dentro das fazendas, com grande profissionalização e melhor gestão, o que traz resultados mais rapidamente.
Entre as opções que os chineses vêm adotando para escalar a produção estão aumentar a produção por animal, por meio de genética e manejo, mas, sobretudo, aumentar o rebanho com a importação de novilhas.
Um exemplo é a Modern Farming, empresa chinesa de pecuária leiteira, que trabalha no “Plano de Liderança de 5 anos,” lançado em dezembro de 2020. O plano tem a intenção de alcançar o número de 500.00 animais e uma produção anual de 3,6 bilhões de kg de leite até em 2025.
Outras fazendas estão na mesma onda de importação de animais e o Brasil é cogitado como uma das fontes, juntamente com países como Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Nova Zelândia e Austrália, sendo os dois últimos os principais exportadores.
Contudo, as medidas para aumento de produção de leite internamente são estratégias de médio e longo prazo, sendo necessárias ações para atender a demanda imediata. Neste sentindo, o país vem abrindo o mercado para importações lácteas de diferentes países, movimentando o comércio global.
Soluções externas: abertura de mercado e aumento das importações lácteas
Como solução imediata, a China vem apostando na abertura de mercado. Entretanto, ao que tudo indica, esta não será uma prática apenas momentânea, pois os novos comportamentos de consumo, moldados pela crise da Covid-19, tendem a permanecer pós-pandemia.
Em concordância, informações do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), estimam que o país continuará importando produtos lácteos nos próximos 10 anos e tem o objetivo de diversificar as fontes de importação. Com isso, a China deve consolidar-se na posição de maior importadora mundial de leite e derivados, absorvendo aproximadamente 20% do comércio global.
Atualmente, a União Europeia (UE), Nova Zelândia e Austrália suprem quase a totalidade da demanda chinesa por produtos lácteos e os produtos da UE representam quase 50% de todas as importações. Atualmente, 20 dos 28 estados membros da UE têm instalações autorizadas a exportar produtos lácteos para o território chinês.
Em 2020, a 7ª Edição da Conferência sobre as Perspectivas Agrícolas da China resultou no documento intitulado “China Agricultural Outlook 2020-2029,” no qual o governo chinês informou sobre acordos comerciais, como o assinado junto à Nova Zelândia, que possibilita a exportação de leite fresco, manteiga e queijos com isenção de impostos a partir de 2021.
A Austrália, por sua vez, será isenta de impostos para as exportações de iogurte, manteiga e queijos a partir de 2024, enquanto, a partir de 2026, todos os produtos oriundos do país não pagarão impostos de importação.
Além disso, em janeiro de 2020, a Fase Um do Acordo Econômico e Comercial, assinado pelos Estados Unidos e pela China, proporcionou aos Estados Unidos maior o ao crescente mercado chinês de laticínios e de fórmulas infantis. Por exemplo, a China agora permite a importação de laticínios de origem ovina e caprina.
Exportações lácteas brasileiras para a China
Ainda conforme as informações divulgadas pelo Mapa, o Brasil, embora esteja acreditado a exportar produtos lácteos e conte com 33 empresas habilitadas, ainda não se beneficiou desse potencial mercado. Isso se dá principalmente em função da competição de países como Nova Zelândia e Austrália que contam com acordos comerciais.
Nos formulários de habilitação, as empresas brasileiras solicitaram autorização para exportar principalmente os seguintes produtos: leite em pó, queijo, manteiga, creme de leite, soro de leite, proteína concentrada do soro do leite, gordura do leite e leite condensado.
A empresa interessada em exportar os produtos sob as categorias de leite esterilizado; leite modificado; leite fermentado ou leite fermentado aromatizado; leite pasteurizado e fórmulas infantis deverá preencher formulário específico. Até o momento, nenhuma empresa brasileira expressou interesse em exportar fórmula infantil para o mercado chinês.
Se quiser saber mais sobre a situação do setor lácteo na China, ouça esse podcast com Wagner Bewskow que esteve por lá em 2019.